Talvez o maior paradigma na área de inovação nas empresas seja a máxima de que ela é o processo de transformar uma ideia criativa em um produto ou serviço que gere valor.
É evidente que criatividade e inovação, são, por definição, coisas diferentes.
Mas essa diferença não pode se tornar um paradigma que nos faça ficar míopes ao que realmente é necessário para inovar. E, na minha opinião, essa miopia é generalizada, pois os processos de inovação, na maioria das empresas, buscam encontrar formas de dividir o problema de uma forma errada.
Acredito que se desejamos inovar de fato, dificilmente isso será feito sem a real valorização do criador das ideias, ou do que chamo de origem criativa, e, principalmente, sua liderança em todo processo, o que raramente acontece.
E isso acontece porque a inovação, quase sempre, é caótica, ou, no melhor dos casos, caórdica.
Mas, apesar disso, existem várias soluções no mercado que buscam encontrar uma ordem para a inovação. Nenhuma crítica a elas, apenas quero reforçar como isso ajuda a formar o paradigma descrito anteriormente, onde todos perdemos e devemos buscar formas de evoluir.
A realidade da inovação nas empresas
Em primeiro lugar, acredito que nosso foco deva ser o resultado da inovação, ou seu retorno aos stakeholders.
E, se queremos de fato o retorno, ou RoI (Return on Investment) para inovação, não podemos esquecer ou deixar de lado o alicerce da inovação, que a meu ver está no fato de que as ideias não são estáticas, mas sim evolutivas.
Principalmente as que conduzem à inovação de ruptura.
Ora, se as ideias evoluem, temos que ter a inteligência evolutiva de valorizar não apenas elas, mas seus criadores, da forma mais completa possível, que é a de participação e liderança nesse processo.
Antes que você diga que sua empresa já faz isso, por favor responda essas duas perguntas:
A sua empresa utiliza apenas as ideias produzidas internamente ou ela realiza movimentos de busca de ideias através de profissionais de fora da empresa?
Caso ela utilize ideias de profissionais de fora da empresa, ela emprega e integra esses profissionais às equipes internas e permite sua liderança nos processos de inovação?
Provavelmente a maior parte das respostas será de pelo menos um não para as duas perguntas.
Na verdade, da minha experiência de mercado na área de inovação, mais de 90% das empresas apresentam pelo menos uma resposta não para as perguntas anteriores.
E a consequência de não termos a origem das ideias, que são os profissionais criativos que a geram, pelos mais variados motivos, evoluindo juntamente com seus insightsdentro das empresas, é a desconexão e perda de foco da inovação.
Essa é a realidade da maior parte das empresas, não só no Brasil, mas em todo mundo, pois o paradigma da inovação não é regional. Aliás, acredito que nosso país tem grandes chances de liderar uma mudança que torne a inovação realmente um processo eficaz nas empresas, ainda mais nesse momento que buscamos sair de uma recessão, tecnicamente comprovada pelos melhores economistas.
A evolução da inovação
Minha visão de evolução da inovação passa por dois caminhos complexos e fundamentais: busca contínua do criador das ideias (seja onde ele estiver) e forte conexão e integração desse criador a todo processo.
Aliás, não estou criando ou inventando nada, pois, se olharmos para trás os cases de sucesso de inovação, dificilmente eles são gerados sem esses dois caminhos.
O problema é que o paradigma de separação de conceitos de inovação e criatividade nos faz não dar a correta relevância ao criador das ideias.
E nesse sentido, talvez a maior ilusão que as empresas possuem é a de que as ideias possam ser criadas unicamente pelas equipes internas, ou ainda, que se possa formar elas continuamente apenas pelo treinamento constante.
Evidentemente que todas empresas possuem seus talentos criativos, mas se desejamos RoI de verdade temos que estar abertos para contratar outros talentos externos, reforçando a ‘prata da casa’.
Mais ainda, é muito provável que as ideias que irão conduzir à inovação de ruptura na sua empresa estejam fora delas, sem paradigmas, em alguma garagem ou sala de pequena empresa que você desconhece.
E se isso é verdade, o mais inteligente em termos evolutivos, a meu ver, é ter uma sistemática de busca constante desses talentos para agregar ao processo de inovação interna, de forma tão forte que permita que esses sejam os futuros CEOs de sua empresa.
Sei que isso vai contra vários conceitos sobre criatividade e inovação e o que pregam a maior parte dos profissionais da área, que buscam resultados mágicos partindo unicamente dos processos, sem o real valor dos autores das ideias relevantes para inovação, seja onde eles estiverem.
Mas, a meu ver, é necessário evoluir esses conceitos, se temos real foco em RoI.
Alguns cases práticos
Para melhor entendimento do que quero dizer, e de como é possível quebrar paradigmas, posso citar dois exemplos relevantes: o da Apple e o do time do Barcelona.
No primeiro caso, mais conhecido, está no reconhecimento e busca dos stakeholdersda Apple da reintegração de Steve Jobs ao processo de criação de novos produtos, justamente quanto a empresa tinha perdido seu potencial de inovação, com fortes impactos em seu RoI. Aliás, infelizmente, com a perda do seu principal líder, ela parece voltar a estar no mesmo estado anterior. E, acredito que o caminho para evitar isso, seja justamente quebrar o paradigma desse post.
No segundo caso, menos conhecido, está a constante busca dos melhores jogadores de futebol do mundo pelo time do Barcelona. Seus stakeholders sabem que para manter um time de alta competitividade, e RoI, precisam dos gênios inovadores do campo, como um Neymar ou Messi. Para isso, adotam um sistema de ‘peneira’ nas principais cidades do mundo onde é possível encontrar com maiores chances esses talentos, integrando eles desde muito jovens às suas equipes internas, para só revelarem seus talentos na hora certa.
São exemplos reais de que, apesar de criatividade não ser o mesmo que inovação, não existe RoI e inovação de ruptura sem a profunda valorização da criatividade e de seus autores, e de sua liderança permanente no processo, afinal, se eles são capazes de criar o arquétipo, ou as ideias originais, muito mais serão de atualizar elas e transformar em novas inovações.
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Por Rogério Figurelli em 30/10/2016
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