The holy city of Varanasi - Varanasi, India
Varanasi, India
Where I stayed
Banaras (P) Guest House
What I did
Holi Festival
Varanasi - a cidade onde as pessoas veem para morrer pois morrer em Varanasi significa quebrar o ciclo de morte e renascimento, em que os hindus acreditam, e assim libertar a alma de futuros renascimentos. Estávamos no Nepal numa viagem de autocarro quando o mesmo foi mandado parar no meio das montanhas sem quase qualquer aldeamento por perto. Era uma família que carregava uma pessoa idosa numa maca. Puseram-na no autocarro. A idosa não conseguia andar, nem suportar o peso do corpo sentada, então sentaram-na entre dois membros da família de forma a que estes suportassem o peso do seu corpo. Já eram visíveis os ossos na cara da senhora, ela estava mesmo a morrer e a ser transportada para Varanasi. Eu acredito que quando se está a morrer, se consegue aguentar, manter vivo por mais uma horas ou mais uns dias, por vezes para dizer um ultimo adeus a alguém ou neste caso, para morrer na cidade sagrada.
E nós também chegamos á sagrada cidade de Varanasi banhada pelo Ganges que também é sagrado (quase tudo ésagrado por aqui). Mas sendo este o local mais sagrado da India espanta-me como este local é tratado. O fedor do lixo nas ruas, as vacas (que também são sagradas) passeiam-se pelas ruas a comer o lixo e a mastigar os sacos de plástico, são magras e com grandes barrigas de todas as porcarias que encontram pelas ruas e comem. Os cães sarnentos que passam fome, que comem outros cães mortos para sobreviver, que são maltratados pelas pessoas, que choram ao pé do corpo do cachorrinho atropelado pelas motas. As crianças com os seus dotes de comerciantes, os condutores de bicicletas com carroça atrelada que pedalam com grande facilidade carregando o peso de dois passageiros, a venda de frutas e verduras. O cheirinho apetitoso da corrida de rua que já se provou que altera o sistema digestivo dos que a ela não estão habituados.Tudo isto acontecesse nas mesmas ruas.
O tão famoso rio Ganges onde as vacas cagam e bebem a mesma água, onde desaguam os esgotos da cidade e ao mesmo tempo de onde é filtrada a água com que se toma banho, cozinha e lava a roupa em toda a cidade.O rio onde flutuam partes do corpo de pessoas cremadas que não devem ter ardido devidamente, onde aparecem nas margens pedaços de roupas das mesmas pessoas que pode ser um "sinal" de alguma relação espiritual entre a pessoa que morreu e a pessoa que encontrou o pedaço de roupa. O mesmo rio onde as pessoas lavam a sua roupa, onde tomam banho, onde lavam os dentes e onde nadam pois assim lavam os seus pecados.
Das grandes escadarias que acompanham o rio encontra-se as pilhas de lenha a arder juntamente com os vários corpox. Neste “funeral” só os homens da família estão presentes porque os homens são fortes e não choram ao contrário das mulheres. Entre 100 a 300 pessoas são cremadas por dia junto ao Ganges. Nas mesmas escadarias ocorre uma cerimónia hindu diariamente apos o por do sol onde as pessoas oferecem cestos de flores e velas como forma de agradecimento. É uma cerimónia intensa e deslumbrante repleta de cores, sinos, incenso, danças, flores, fogo, agua que envolve toda a gente no espirito do ritual, forte, sonoro e colorido.
O famoso Holi – festival das cores convida desde turistas curiosos a famílias indianas de todo o país a celebrar o dia em que destroem as suas roupas velhas e compram roupas novas para o novo ano. O festival marca o fim do inverno e as colheitas abundantes para a primavera. É comparável á nossa passagem de ano.
Banaras Guest House, onde ficamos alojados. cJuntámos um grupinho bastante engraçado. Dois polacos, dois alemães, uma espanhola, um belga, dois japoneses, um austríaco e um brasileiro. Gente que, por diversos motivos, decidiu passar algum tempo a viajar pela asia, uns por longos meses outros por apenas alguns dias, gente jovem e bem disposta. Krishna e Naveen, os dois irmãos donos do hostel organizaram uma festa connosco no terraço da guest house. Uma festa de manhã, pelo menos para nós. Para outros a manhã é só a continuação da noite anterior graças ao Bhang, uma bebida com marijuana diluída bastante comum nesta data que, de acordo com os locais é “24h Full Power”. Bastante sugestivo. Então pela manhã começou a batalha para nós com pós coloridos e tintas solúveis na água. Começamos o ataque aos terraços que nos rodeavam dando banho de tinta aos vizinhos e levando baldadas de água colorida também. Estava a guerra instalada. Mas a curiosidade destas nacionalidades todas levou-nos para as ruas, acompanhados pelos indianos donos do hostel. Rapidamente constatámos que o Holi não é um festival para mulheres.
As ruas estão cheias de (apenas) homens já bem bêbados pela manhã e possuídos pelo Bhang. Além de não ser um festival para mulheres, muito menos o é para mulheres europeias. Ora, a sociedade indiana é muito oprimida sexualmente. Não existe contacto entre homem e mulher na rua. Na verdade os homens e rapazes andam na rua abraçados e de mãos dadas entre eles e as mulheres também só andam em público com outras mulheres. Não existe de todo qualquer contacto entre os dois sexos. Além disso, através dos casamentos arranjados, só existe sexo depois do casamento. Desta forma os rapazes passam a sua adolescência com os desejos comuns da idade que apenas são satisfeitos com a pornografia às toneladas. E nessa pornografia é onde eles vêem mulheres ocidentais. É mesmo a unica fonte de informação sobre as mulheres ocidentais. Então existe este cenário: jovens pouco instruídos, sem qualquer educação e valores, com muito álcool e Bhang, oprimidos sexualmente que vêem muita pornografia NUM DIA EM QUE LHES É PERMITIDO FAZER TUDO neste festival. Ao verem então mulheres brancas ficam vidrados e querem apalpar e tocar e fazer. Soltam-se os instintos animalescos!
Quando chegamos então à margem do Ganges pelas 10h da manhã estava um grupo de homens com perucas, outros vestidos de mulher a dançar e a saltar todos bem divertidos. Fomos encaminhados para nos sentarmos nas escadas de forma a não estar em sítios de passagem mas mesmo assim existia um homem com uma vontade tremenda de se aproximar do nosso grupo, e segundos depois estava ele rodeado de outras pessoas que aparentemente nos estavam a proteger. Começaram a bater-lhe e aos murros sendo esta a única forma que encontraram para controlar um homem descontrolado.
A India tem destas coisas. Há sempre alguém que não tem boas intenções com os estrangeiros, mas também há sempre alguém para nos proteger.
Comida de rua por mais apetitosa que pareça, pode ser mesmo cozinhada com a água do rio Ganges! Blhec! O rio parece ser apenas sagrado para os indianos, porque depois do nosso colega brasileiro mandar umas braçadas pelo sagrado Ganges esteve de febre, diarreia e a vomitar. As mulheres têm que ter cuidado com as vestimentas para não ferir susceptibilidades e usar roupa larga, cobrir ombros e decotes e joelhos e tudo o que for possível cobrir com o calor que faz. Atenção ao chão para não pisar cocó de vaca, negociando sempre preços pois somos taxados sempre 4 vezes mais que o verdadeiro preço. Apesar de tudo, encontrei um cantinho em Varanasi do qual fiz a minha casa durante 10 dias. Acolhedora e solarenga, combinada pelos concertos e a yoga ao nascer do sol junto ao Ganges, fazem da minha rotina tranquila e relaxante.
Na verdade já aceito toda esta forma de vida com as suas diferenças e desafios diários como parte da minha rotina. Às vezes rio com situações hilariantes, outras vezes fico chocada. Mas uma coisa é certa, nunca fico aborrecida com tanta animação a minha volta!