2016-05-25

Título: No Aleph para um olhar sobre o Serviço ACARTE da Fundação Calouste Gulbenkian entre 1984 e 1989
Autor: Vieira, Ana Maria Bigotte
Resumo: Unlike several European countries where modern art museums were built in the
1950s/1960s following World War II as a symbol of democracy, Portugal’s economic
conditions (the country was drained by the colonial wars) and Salazar’s rule would only allow
for the construction of a modern art museum in the 1980s under the private initiative of the
Calouste Gulbenkian Foundation, shortly before Portugal joined the European Economic
Community. The Gulbenkian’s Centro de Arte Moderna [CAM – Modern Art Center] opened
in 1983, and it was the first modern art museum in Portugal.
Thought of as an art center rather than a museum, CAM included a multi-purpose hall;
an open-air amphitheater; a temporary exhibition hall and a children’s art center. The activity
taking place beyond the exhibitions gallery where the museum was lodged was the
responsibility of ACARTE, the Gulbenkian Foundation’s Department of Artistic Creation and
Art Education. Several temporalities seem to be at stake. Schematically: CAM was a promise
from the 1950/60s that was fulfilled; placed in an architectonic archetype from the 1970s;
which opened in the 1980s; hosting the ACARTE Department, whose curatorial approach –
mainly focused on performance, dance, theatre and relational events – could be seen as
prefiguring the curatorial discursive and performance turn of the 2000s.
ACARTE can also be thought of as the culminating point of two decades of research
on Education through Art and Artistic Education. Its founder and first director Madalena
Perdigão not only founded the Gulbenkian Orchestra, Chorus and Ballet, but was also
responsible for the reform of the national conservatory school in 1971 and for a failed
reorganization project of the national artistic education in 1978, after the 1974 Revolution.
There is thus an intricate history linking the pedagogic experiments prompted by the
Gulbenkian Foundation before the 1974 Revolution, the reform of the national conservatory
school, Perdigão’s failed efforts towards restructuring the National Art Education, and her
return to the Gulbenkian Foundation as ACARTE Director in 1984. Hence, ACARTE’s
activities in the 1980s are directly related to the 1960s’ experiments in pedagogy. But not
exclusively: the department’s activities can also be looked at as being at the crossroads
between a series of curatorial and programming practices. By basing its activity on the need
to attend to what “is missing” ACARTE developed a particularly attentive way of moving
through aesthetic and political proposals usually allocated to different time spans, thus
accounting for the different perceptions its contemporaries had of their time. As such,
ACARTE is a superb case study with regard to decentered modernities.
Organized as a lens to look into ACARTE through the 1980s, this work is divided into
two parts: Text and Digital Timeline ACARTE 1984-1989. If the latter, a digital archive,
aims at opening up ACARTE’s activity to future researches, the first aims at situating this
Department in its context of emergence. It pays particular attention to the ways in which
ACARTE can be seen as a major event for the reconfiguration of the subject’s experience of
corporeality that was taking place by then.; Ao contrário do que aconteceu numa série de países europeus onde no Pós II Guerra
Mundial foram construídos museus de arte moderna, sinal de democracia e liberdade, em
Portugal, devido ao regime de Salazar e Caetano, esta construção aconteceu já na década de
1980, por iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian. Assim, o Centro de Arte Moderna
(CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian, inaugurado em 1983, viria a ser, na prática, o
primeiro museu de arte moderna do país, com uma colecção organizada de propósito para a
ocasião.
Pensado como um centro de arte e não como um museu, o CAM incluía uma sala
polivalente, um anfiteatro ao ar livre, uma sala de exposições temporárias e um pavilhão para
crianças. A actividade que tinha lugar para lá das galerias do museu era da responsabilidade
do Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte (ACARTE). Várias
temporalidades parecem coexistir: a promessa realizada de uma vontade de ter um museu de
arte moderna vinda da década de 1950/1960; alojada num espaço arquitectónico característico
da década de 1970 e inaugurada na década de 1980, o CAM; e albergando no seu interior um
Serviço, o ACARTE, em sintonia com os esforços de criação de uma “Europa da Cultura” da
década de 1990; e que se poderia entender como prefigurando a viragem curatorial em
direcção ao discursivo e ao performativo que tem lugar já em 2000.
O ACARTE pode igualmente entender-se como o culminar de duas décadas de
investigação em Educação pela Arte e Educação Artística, pois a sua Fundadora e primeira
Directora, Madalena Perdigão, não apenas criou a Orquestra, o Coro e o Ballet Gulbenkian,
como foi responsável pela reforma do Conservatório, em 1971, e por um projecto falhado de
reestruturação do Ensino Artístico Nacional, em 1978. Uma história intrincada liga assim as
experiências em Educação pela Arte levadas a cabo na Gulbenkian antes da Revolução, a
reforma do conservatório, a falhada reestruturação do Ensino Artístico Nacional e o regresso
de Perdigão à Fundação Calouste Gulbenkian em 1984. Neste sentido, a actividade do
ACARTE na década de 1980 continua as experimentações pedagógicas da década de 1960.
Mas não apenas: esta actividade pode também ser entendida no cruzamento entre uma série
de práticas de curadoria e programação. Ao pautar a sua acção por uma “atenção à falta”, o
ACARTE terá desenvolvido uma forma particular de albergar propostas estéticas e políticas
geralmente atribuídas a períodos distintos, abrindo-se às diferentes percepções que os
contemporâneos teriam do seu momento histórico. Torna-se, como tal, um caso de estudo
exemplar no que diz respeito a modernidades descentradas.
Estruturando-se como uma lente para observar o ACARTE na década de 1980, este
trabalho organiza-se em duas partes: Texto e Timeline Digital ACARTE 1984-1989,
composta exclusivamente para este fim. Se a última procura abrir a acção deste Serviço a
investigações futuras, a primeira procura situá-lo no seu contexto de emergência, prestando
particular atenção aos modos como a sua acção contribui para uma reconfiguração da
experiência da corporalidade que por estes anos tem lugar.

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