2015-11-27

Lançamentos, black fridays, reviews hiperbólicos… tudo parece lhe empurrar para aquela clássica crise de equipamentite aguda. O que fazer? Eric Kim dá alguns macetes.

de Eric Kim

Sou um paciente grave com equipamentite aguda (ou Síndrome da Aquisição de Equipamento). Sempre quero comprar coisas novas — o iPad mais novo (Epic), carros (Mustang), telefone (iPhone 6s ou Nexus 6P), roupas (jeans cru hipster de mais de $200), cafeteiras (mais de $500) e toneladas de outras coisas em minha lista de desejos na Amazon. Aqui estão algumas dicas práticas que me ajudaram (parcialmente, ao menos) a combater minha equipamentite:

1. Deixe que alguém controle seu cartão de crédito

Eu e minha parceira, Cindy, recentemente fundimos nossas finanças e cartões de crédito. Agora ela vê todas minhas compras. Por quê? Não confio em mim mesmo. Sou um cara que cresceu pobre, e sou péssimo com finanças. Entregue-me dinheiro e já estou indo imediatamente gastá-lo (porque sabe-se lá se amanhã terei o dinheiro ou serei um sem-teto).

De uma forma estranha isso foi uma grande benção, de forma que sei que não posso mais me furtar a fazer pedidos sem que a Cindy saiba.

Eu estava brincando com ela recentemente, dizendo que deveria pedi-la uma mesada. Isso me daria bem menos estresse, porque todo o dinheiro de que preciso é para comprar café, comida e transporte. Já tenho todas posses materiais que poderia necessitar — laptop, smartphone, tablet, câmera, roupas — então tudo o mais que eu venha a querer é simplesmente irrelevante.

Além do mais, eu instituí uma regra pessoal: se quero comprar qualquer coisa acima de $300, preciso de permissão explícita de Cindy (ela é muito mais racional do que eu, e pode ver meu passado consumista).

Na cultura vietnamita, são as mulheres que controlam o dinheiro e as finanças. Por quê? Estereotipadamente, os homens vietnamitas saem pra jogar, beber e tomar um café, então as mulheres têm que ter certeza de que as contas são pagas e o dinheiro não está sendo desperdiçado.

Se você é como eu (um idiota para comprar coisas), pode ser uma boa ideia deixar que alguém controle o dinheiro.

2. Tenha uma regra para “comprar coisa nova”

Eu e Cindy estamos nos mudando para o Vietnã em julho, e lá ficaremos por um ano. Depois, por outro ano, poderemos viver em Marselha, na França (ela prosseguirá pesquisa por lá para seu PhD em história colonial vietnamita). Então estamos atualmente em meio a uma redução de tranqueiras que temos em nossa casa, porque não poderemos levá-las.

Tenho um plano: quero encaixar todas posses de minha vida na minha mochila (uma ThinkTank Perception 15), a qual é bastante pequena. Tudo que acho que posso colocar lá é um laptop, um smartphone, carregadores, câmera, algumas roupas e um punhado de livros. É isso. Não há melhor maneira de forçar-me a manter-me com o mínimo. Além do que, Cindy recentemente propôs uma nova regra: “Não compre nada novo até que partamos para o Vietnã.”

Para você, talvez possa baixar essa regra “não compre coisa nova” por um dia, uma semana, um mês, três meses, um semestre ou mesmo um ano. Você não precisa seguir essa regra pelo resto de sua vida. Pessoalmente estabeleci esse exercício para ensinar-me a diferença entre o que penso que ‘preciso’ versus meu ‘quero’ artificial.

3. Releia resenhas antigas das coisas que você já possui

Lembra como você ficou animado quando tinha acabado de comprar sua atual câmera digital? Reviva essa experiência relendo resenhas da câmera que você já tem. Junto com isso, você pode imaginar a dor que sentiria se alguém roubasse sua câmera, ou se a perdesse. Daí perceba que ainda a tem, e irá apreciá-la ainda mais.

Você nunca sabe o quanto aprecia algo, até que o perca (coisas materiais, capacidades físicas, ou mesmo a vida de alguém que ama). Então pratique constantemente a experiência em pensar “Como eu me sentiria se eu perdesse ‘x’ em minha vida?”

4. Mais coisas, mais problemas

Tento também constantemente lembrar-me que quanto mais coisas eu tenho, mais complicações elas dão à minha vida. Se compro mais roupas, preciso de mais espaço no closet. Se compro uma câmera nova, preciso comprar mais discos rígidos (e possivelmente atualizar meu computador porque ‘mais megapixels, mais problemas.’)

De uma forma engraçada, isso também ocorre com dinheiro: quanto mais dinheiro você tem, mais estresse e problemas pode ter. Não me entenda mal, é importante ter posses materiais, mas perceba que, antes de comprar qualquer coisa nova, existirão também novas dores de cabeça.

5. Espere estar “adaptado”

“Adaptação hedônica” é um processo psicológico no qual nos adaptamos a qualquer objeto material que compramos, qualquer upgrade em seu estilo de vida ou qualquer evento bom (ou ruim) que aconteça em sua vida.

Se ganhamos na loteria, ficamos animados por uma semana, e daí percebemos que o estresse de ganhar na loteria (família vindo dos grotões clamando merecimento pelo dinheiro, pessoas tentando lhe engabelar para obter a quantia, e ser constantemente assediado por organizações de caridade). Não apenas isso, mas você irá ajustar-se e “adaptar-se” ao novo nível de riqueza em sua vida.

De forma semelhante, se você compra uma câmera nova, não importando o quão cara seja, você vai acostumar-se a ela (seja uma nova compacta, uma micro quatro terços, uma DSLR, uma rangefinder etc).

Então o segredo não é nunca comprar uma câmera nova (recomendo fazer upgrade de sua câmera tão frequentemente quanto você troca de celular ou laptop). O segredo é subestimar quanto de felicidade uma nova compra lhe dará em sua vida.

É fato que precisamos de uma câmera para clicar — ela é uma ferramenta. Mas na próxima vez que comprar aquela câmera nova, tenha expectativas realistas. Ela será boa, mas não transformará completamente sua fotografia nem resolverá os problemas de sua vida. Tente n~~ao ficar animado demais com seu equipamento novo, já que você vai, afinal, acostumar-se a ele.

6. Alugue equipamentos, ou peça emprestado

Um tanto interessante, uma das melhores maneiras de superar um equipamento é simplesmente experimentá-lo… e perceber que ele não é tão incrível como você pode esperar que seja.

Por exemplo, eu estava bastante interessado na nova Sony A7r II (mais de 40 megapixels, e todas aquelas especificações legais). No entanto, ao experimentar a de um amigo, achei ela apenas OK — não tão bacana como esperava. No final das contas, era só mais uma câmera. E percebi o quão dolorosamente pé no saco é lidar com arquivos tão grandes (desaceleraram como o diabo meu computador).

Antes de sair comprando uma câmera nova (que você provavelmente não precisa), peça emprestada a um amigo ou alugue-a numa loja local de câmeras, ou online. Mas cuidado: às vezes a ignorância é uma benção. Às vezes alugar uma câmera pode ser um engano custoso. Penso que o segredo é apenas conhecer sua personalidade, e seguir o que funciona para você (se a ignorância é felicidade, ou se a testa e a supera).

7. Perceba que câmeras são mais semelhantes do que distintas

Psicologicamente forçamos mais as diferenças do que as similaridades (para convencer-nos a comprar coisas as quais não precisamos). Entretanto, a maior parte dos bens de consumo são bem mais semelhantes do que distintos. Mesmo iPhones e celulares Android — claro que são diferentes, mas no final das contas ambos respondem emails, navegam na Web e acessam seus aplicativos de redes sociais.

O mesmo ocorre com câmeras: todas tiram fotos afinal, e a verdade é que não existem mais câmeras digitais “ruins”. Todas são boas.

Claro que certas câmeras podem suprir seu estilo melhor do que outras, mas quando você desejar uma câmera nova, pergunte-se “Quais são as semelhanças dessa câmera em relação à minha atual?” Se você se der conta de que as similaridades prevalecem sobre as diferenças, você é capaz, obviamente, de perceber que não precisa de uma câmera nova ou alguma parte de equipamento.

8. ‘Preciso’ vs ‘quero’

Acho que essa é a coisa mais difícil que negocio em relação a equipamentos — a questão de se eu ‘preciso’ de determinada câmera ou objetiva, ou se apenas ‘quero’ ela. Se você sabe que quer algo (e não necessariamente necessita daquilo) mas pode conceder-se e está bem com isso, não sinta nenhuma culpa. mas acho que é importante saber no que está se metendo.

Frequentemente um monte de profissionais necessitam de determinado equipamento para certos demandas. Se você é um fotógrafo de moda e pretende produzir impressões em tamanho de outdoor, é preferível possuir uma câmera médio-formato. Mas se você é um hobbista, não necessita de mais de 40 megapixels.

Honestamente, nenhum de nós realmente ‘precisa’ de uma câmera, afinal, se não ganhamos a vida com ela. Apenas a ‘queremos’ porque ela nos traz felicidade, alegria e nos ajuda a ser criativos.

Então de você possui uma câmera suficientemente capaz, olhe-se bem no espelho e pergunte-se se você quer comprar algo novo porque você quer ou porque precisa disso. Não se convença de que ‘precisa’ de algo (se estiver mentindo para si mesmo), especialmente se você não pode conceder-se e terá que colocar em seu cartão de crédito. Divida não é diversão.

9. Compare seus custos com suas experiências

Mil dólares por uma câmera nova poderiam ser uma viagem internacional de ida e volta, 20 ótimos livros fotográficos ($50 cada) ou uma oficina de fotografia e experiência inesquecível. Quando estou tentado a comprar uma coisa nova, procuro equacionar o valor financeiro com a experiência que ele poderia comprar.

Dinheiro investido em experiências são sempre o melhor investimento porque, não importa qual, nós nunca podemos “perder” uma experiência (ela estará sempre viva em sua memória), enquanto uma câmera pode ser roubada, ficar datada ou juntar poeira numa prateleira. Tendemos a “adaptar-nos” menos a novas experiências (viajando) do que “adaptar-nos” a coisas materiais.

Ao final de sua vida, você irá preferir ter tido um bocado de memórias maravilhosas de viagens pelo mundo, conhecendo outros fotógrafos, imprimindo seu trabalho, frequentando workshops e aulas fotográficos, ou preferiria morrer em seu leito de morte com 100 Leicas?

10. Apenas saia e vá clicar

Curiosamente, quando estou por aí clicando (com a câmera que já possuo), não desejo mais qualquer outra câmera. Apenas desejo novas câmeras quando estou sentado como paxá na minha casa, com meu smartphone, lendo sites de resenha de equipamentos sobre a câmera digital mais nova. Quando estou pelas ruas, a câmera torna-se invisível para mim; eu apenas reajo ao que vejo e clico sem pensar.



Então, amigo, se você está lendo isto e ainda encontra-se suplicando por uma câmera ou acessório novos, apenas vá lá fora e faça alguns cliques, e curta sua caminhada. Aproveite o equipamento que já tem, releia resenhas dele, e tente reviver a experiência de quando o pegou pela primeira vez, o quão feliz e animado você estava.

Se está lendo isto, é abençoado. Você tem conexão à Internet, provavelmente possui um smartphone (smartphones modernos podem tirar fotos bem superiores a antigas câmeras digitais compactas) e a capacidade de compartilhar suas fotos com todos no mundo (via mídias sociais). Não há nada segurando sua própria imaginação, percurso, arranque e curiosidade.

via Petapixel

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