2016-07-04

Instalações modernas com 30% de capacidade ociosa. Quase 60 unidades de produção desativadas. Volatilidade e queda dos preços internacionais em commodities. Lucratividade em queda e crescimento das dívidas. Trinta mil empregos perdidos nos últimos anos. De acordo com especialistas de mercado, este é o panorama atual da indústria de aço brasileira: uma crise generalizada que está aqui para ficar… provavelmente por mais 5 ou 10 anos.Por outro lado, um excesso de sucata de aço e metal sucateado foram gerados como resultado do forte mercado interno até 2014. Tal volume potencial de matéria-prima vem se acumulando nos pátios ou – ainda pior – descartados em aterros sanitários.

Apesar da crise, o Brasil nutre algumas características únicas que podem ser úteis para reverter a situação: o país tem um enorme mercado consumidor que não deve ser ignorado, estimado em mais de 205 milhões de pessoas; um ecossistema industrial integrado e forte, desde o minério de ferro até produtos acabados; e, tão relevante como os anteriores, o Brasil tem uma cultura de criatividade e liderança empresarial, que é essencial para transformar crises em oportunidades.

Após a Revolução Industrial, a sociedade desenvolveu um ritmo de consumo com base em um paradigma linear, conhecido como Modelo Econômico Linear. Os recursos naturais finitos são extraídos para atender as necessidades humanas e quase tudo é descartado ao final da vida útil, muitas vezes em locais inapropriados, de forma que novos recursos precisam ser retirados da natureza.

Este estilo de vida linear não causa grande impacto quando praticado em escala reduzida. Porém, na proporção que chegamos, os efeitos colaterais nocivos são facilmente identificados: poluição, desmatamento, empobrecimento dos solos férteis, esgotamento dos recursos naturais finitos, redução da biodiversidade, alterações globais no clima, entre outros.

A natureza nos dá sinais claros de como o meio ambiente está sobrecarregado e não mais sustentará este estilo de vida. Dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), apontam que, durante o ano de 2014, foram produzidos 78,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos no Brasil. Mais de 41% das 78,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos gerados no país em 2014 tiveram como destino lixões e aterros controlados.

Diante deste cenário, a Economia Circular surge como uma nova forma de pensar as dinâmicas econômicas. Inspirada na Natureza, onde nada se cria e tudo se transforma, a Economia Circular busca criar e desenvolver sistemas econômicos regenerativos, nos quais o conceito de resíduo é eliminado, e aquilo que é descartado por um processo é sempre reaproveitado por outro. Dessa forma, a extração de recursos naturais virgens é minimizada, ao passo que a utilização dos recursos já extraídos é maximizada.

Embora desafiador, pode-se argumentar que este contexto é perfeito para alimentar iniciativas e modelos de negócio em Economia Circular. Muitos stakeholders brasileiros já entenderam isso, impulsionados pela Fundação Ellen MacArthur, o que pode ser claramente visto pelo galopante interesse no assunto.

O conceito vem ganhando força nos últimos anos, principalmente nos países europeus. No final do ano passado, a União Europeia lançou um pacote de medidas e incentivos para o que está sendo chamada de “transição europeia para uma Economia Circular”. No Brasil, a ideia também deslanchou após o lançamento do escritório local da Fundação Ellen MacArthur, principal difusora do modelo em escala global.

A tarefa de implantar a Economia Circular e difundir os processos de reciclagem, reutilização e manufatura reversa não envolve somente as empresas. Acima de tudo, a circularidade pressupõe a implantação generalizada de novos modelos de negócio, cujo motor econômico seja a venda de um serviço ou experiência em oposição à venda de um item físico, toda a cadeia de produção precisa entender o seu papel nesse novo conceito.

Inspirada pela fusão entre Negócio e Sustentabilidade, a Embraco lançou o Nat.Genius, uma Unidade de Negócios focada no fechamento do ciclo na indústria eletroeletrônica. Subsidiária do grupo Whirlpool, a Embraco é uma multinacional brasileira focada em inovação e uma das maiores fabricantes mundiais de compressores herméticos para refrigeração.

O Brasil, por características históricas, tem o privilégio de deter condições favoráveis ao desenvolvimento de modelos circulares. Temos ao mesmo tempo um mercado consumidor, uma indústria de manufatura e uma legislação ambiental fortes. Os produtos consumidos têm facilidade para fechar o ciclo e voltar ao ecossistema de manufatura.

Embora relativamente novo, o Nat.Genius já está impulsionando os limites da inovação na indústria de Economia Circular. No caso dos compressores, por exemplo, algumas peças podem ser reutilizadas e reintroduzidas no processo de produção de novos equipamentos (circuito fechado), bem como revendidas para outros mercados com aplicações similares (circuito aberto). Outro caso interessante são as chapas de aço da linha branca que o Nat.Genius é capaz de recuperar e fornecê-las como matéria-prima semiacabadas para parceiros de pequenos e médios porte. Trata-se de um grande desafio em termos de barreiras comerciais e tecnológicas. Do ponto de vista tecnológico, a Economia Circular também é positiva porque estimula a inovação em campos pouco explorados por governos e empresas, assim como desenvolve bases para a criação de novos mercados consumidores.

Os benefícios proporcionados pelo Nat.Genius geram uma relação ganha-ganha com seus parceiros, ao fornecer matéria-prima competitiva no atual cenário de recessão. Em 2016, espera-se que a Unidade de Negócios cresça dois dígitos e confirme a robustez e a importância da Economia Circular como um modelo sustentável a ser seguido.

*Escrito por Luiz Ricardo Berezowski, gerente do Nat.Genius

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